Existem poucas maneiras de as tenras partes de um corpo humano sobreviverem ao esmagamento causado por um piano cadente.
Mas há algumas…
Uma delas é a de se desenharem asas ao piano em plena queda.
Pianos alados.
Umas das formas mais comuns de se fazer um piano voar é a de devolver a ele – por sobre a sua carranca de pesado objeto – a sua verdadeira condição de fenômeno, processo.
São finos os dedos que expõem os pianos às suas entranhas. Um dedo leve mas treinado é capaz de acionar o mecanismo de tendões, alavancas e musicalidade. Com alguns toques minimamente coordenados, o paquiderme, o baú, pior ou melhor envernizado, passa à situação de instrumento.
Todo instrumento tem um sujeito que o sujeita. Um piano em queda não é uma força aberrante e desgovernada. Tem seus propósitos, não mera gravidade – seja a desatenção ou a malícia de quem o lançou. Nesses termos, o piano não cai, o piano pousa.
Xô, piano!
outubro 1, 2010 às 11:37 pm |
=)